Na noite de 22 de janeiro, o Centro de Cultura e Formação Cristã promoveu, no Seminário de Leiria, a conferência conclusiva do ciclo de ética e espiritualidade. O tema “cuidar do cuidador (frágil): elementos para uma espiritualidade do cuidado” foi trabalhado pelo padre José Frazão Correia, teólogo e provincial dos Jesuítas em Portugal. A conferência, de entrada livre, contou com um auditório de cerca de 150 pessoas.
Se o percurso formativo do ciclo evidenciara que o cuidador é, também ele um lugar frágil, ferido e necessitado de cuidados, faltava ainda aprofundar os elementos de que se alimenta o cuidado, particularmente a partir dessa perceção de que é uma relação de frágeis.
O padre José Frazão Correia começou por sublinhar que uma dupla dimensão com que se apresenta o cuidado: por um lado, o cuidado como afeto, na medida em que “cuidar tem a ver com a justa relação, com a presença suficiente e com a suficiente distância também”. Por outro lado, o cuidado prende-se também com “atender à dramaticidade da vida”, procurando ser auxílio a que os passos do outro sejam prudentes.
Que o cuidador é frágil é algo que transparece na vida de todos. “A fragilidade tem a ver com o lado finito da nossa existência, com o custo das relações, com o envelhecimento”, sublinhou o teólogo. Na medida em que vive da liberdade de quem recebe e de quem dá, a relação só pode ser frágil. E, na medida em que o cuidado é relação de afeto, o cuidado é também ele frágil.
Em jeito de síntese, José Frazão Correia apontou quatro coordenadas do cuidar: “o cuidado expõe a minha identidade à minha capacidade de ser amado, à minha capacidade e dever de amar, à grandeza do que sou, e à fraqueza do que sou”. Nesse sentido, sublinhou, o cuidado há de ser compreendido “como relação de extrema fecundidade e de extrema tentação”, já que “o drama da nossa existência é que duvidamos constantemente acerca da certeza de sermos ou não amados”.