Podemos dizer que a história de Leiria começa em 1135, com a fundação do castelo por ordem de D. Afonso Henriques, nomeando D. Paio Guterres para seu primeiro alcaide. Perdida para os mouros em 1140, Leiria recebe o seu primeiro foral de D. Afonso Henriques em 1142 e é retomada por este rei em 1145, reedificando-se, a partir daí a sua povoação.

Cerca de 1147, estando integrada na diocese de Lisboa, é fundada a primeira igreja em Leiria, com a invocação de Nossa Senhora da Pena. Em 1155, D. Afonso Henriques doa a povoação de Leiria com toda a jurisdição eclesiástica e secular aos cónegos regrantes do convento de Santa Cruz de Coimbra, privilégio confirmado em 1157, pela bula “Ad hoc uniuersalis”, do Papa Adriano IV.

O crescimento da vila é constante. A segunda igreja de Leiria será a de S. Pedro, erigida por volta de 1195. Em 1203, a bula “Cum olim”, do Papa Inocêncio III, adjudica definitivamente o eclesiástico de Leiria ao mosteiro de Santa Cruz. Cerca de uma década depois, Leiria possui cinco paróquias urbanas (Santa Maria da Pena, S. Pedro, Santiago, Santo Estêvão e S. Martinho) e cinco rurais (S. Miguel de Colmeias, S. Salvador de Souto, Santa Maria de Vermoil, S. Simão de Litém e S. João de Espite), seguindo-se, em 1220, a criação da paróquia de Ourém sob invocação de Nossa Senhora da Misericórdia. Em 1232 começa a construção inicial do convento de S. Francisco, junto ao rio. E D. Dinis viria a instituir a feira anual de Leiria, em 30 de abril de 1295, junto à igreja de S. Martinho.

Passam décadas e séculos de consolidação da povoação e de desenvolvimento local. Em 1498 é fundado o convento de Sant’Ana, mosteiro de religiosas dominicanas. Em 1510, D. Manuel atribui foral novo à vila de Leiria e em 1512 são desanexadas da vila e eretas as paróquias de Santa Cruz da Batalha, de Nossa Senhora dos Remédios do Reguengo e de Nossa Senhora da Piedade de Monte Real, constituindo-se outras nos anos seguintes, como Maceira, Seiça, Mendiga e Arrimal.

2014-05-21 dia diocese rei papaEm 1527, Leiria tem 584 vizinhos (casas) na vila e arrabalde, dos quais 53 são cavaleiros e 40 clérigos. No conjunto de Leiria e do seu termo, somam-se 2060 vizinhos. Serão cerca de 2340 habitantes na vila e 6500 em todo o termo.

É em 1543 que o rei D. João III pensa em alterar a divisão diocesana em Portugal, a propósito da vacância do arcebispado de Braga e do bispado de Coimbra, escrevendo uma carta ao embaixador de Portugal em Roma, para que insista junto do Papa na importância da criação do Bispado de Leiria. Entretanto, em 1544, é instituída a Misericórdia de Leiria.

O rei volta a escrever ao Papa Paulo III, a 16 de fevereiro de 1545, insistindo no pedido da criação de novos bispados, especialmente o de Leiria, propondo o nome de Frei Brás de Barros para seu primeiro bispo.

Finalmente, a 22 de maio desse ano, o pedido real é correspondido, com a criação da diocese de Leiria pela bula “Pro excellenti apostolicae sedis”, desanexando-a da de Coimbra e erigindo-se a igreja de Santa Maria da Pena como sua catedral. Na mesma data, pela bula “Decet Romanum Pontificem”, são aplicadas à nova catedral de Leiria e ao seu bispo – Frei Brás de Barros – as rendas que ali tinham o mosteiro e o prior-mor de Santa Cruz.

Em resposta imediata a esta decisão papal, embora em documento datado de 13 de junho, D. João III eleva a vila de Leiria à categoria de cidade.

A 28 de julho, Frei Brás de Barros toma posse do bispado de Leiria. De início, o bispado tem apenas dezasseis paróquias, das quais dez eram da jurisdição do prior-mor de Santa Cruz (as cinco da cidade e Batalha, Maceira, Monte Real, Pataias e Reguengo do Fetal). A estas somam-se as paróquias desanexadas do bispado de Coimbra: Caranguejeira, Colmeias, Espite, S. Simão de Litém, Souto da Carpalhosa e Vermoil.

Frei Brás de Barros seria sagrado bispo de Leiria a 18 de junho de 1546, ano em que se inicia a construção do paço episcopal.

[Luís Miguel Ferraz | Presente Leiria-Fátima | Fonte: Maria Luísa de Albuquerque Melo, “450 datas para a história da diocese de Leiria”, Leiria-Fátima – Órgão Oficial da Diocese, 8 (maio/agosto de 1995), 87-151.]

História que continua…

Se quisermos dividir a história propriamente dita da diocese de Leiria, desde a sua criação até à atualidade, podemos encontrar (…) alguns marcos significativos que nos permitem estabelecer cinco períodos.

1.º – O primeiro vai até ao ano de 1586, e pode caracterizar-se pela estruturação da nova diocese.

2.º – A integração de dois largos territórios, em 1586, e mais duas freguesias, em 1614, desmembradas do arcebispado de Lisboa, o segundo sínodo diocesano, em 1598, e a promulgação de novas constituições, em 1601, estão no início de um novo período, que se caracteriza sobretudo por um franco movimento de novas construções de igrejas e ermidas e por outros aspetos de alguma vitalidade. Este período vai praticamente até ao fim do primeiro decénio do século XIX.

3-º- Desde 1810 até ao ano de 1882, verifica-se uma nítida decadência, motivada pela 3.ª invasão francesa e pelas várias tentativas de extinção da diocese, que se consumaram em 1882.

4.º – O interregno em que a diocese esteve dividida em partes iguais pelo patriarcado de Lisboa e diocese de Coimbra durou 35 anos.

5.º- A restauração da diocese, decidida superiormente em dezembro de 1917 e com bula passada nos princípios do ano de 1918, inicia um novo período que vem até à atualidade.

Contemporaneamente, verificaram-se, também em 1917, as aparições de Nossa Senhora, que com a sua aprovação canónica episcopal, em 1930, e a adesão de toda a Igreja à sua mensagem deram uma dimensão internacional à pequena diocese, que recebeu, em 1984, o novo título de Leiria-Fátima.

[Luciano Cristino, “Da vigararia crúzia à diocese de Leiria-Fátima”, Leiria-Fátima – Órgão Oficial da Diocese, 8 (maio/agosto de 1995), 166-167.]

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