Dizer orações e ser uma pessoa de oração são duas coisas diferentes. Dizer orações é seguir um padrão de oração. Dizemos uma oração por aqueles que estão doentes. Rezamos por «intenções especiais». Fazemos preces especiais para assinalar momentos especiais na vida: o Batismo de uma criança, a celebração da Páscoa, a bênção de um casamento, o início de um novo emprego, de um projeto ou de uma fase na vida.
Muitas das orações que recitamos foram-nos legadas pelas gerações que nos precederam. Os Salmos, por exemplo, assinalam o grito do espírito humano através dos tempos. As Escrituras falam-nos de pessoas e de orações de há mais de vinte séculos atrás. Em todas as culturas, orações como estas trazem consigo a sabedoria do passado, para iluminar as inspirações do presente.
Estas orações são veneráveis, são uma história do imutável espírito humano. Mas não garantem que aqueles que as dizem sejam, realmente, pessoas «de oração». Dizem-nos apenas que as pessoas oram.
O espírito de oração, por outro lado, é a capacidade de caminhar em contacto com Deus, através de tudo na vida. É a consciência interna de que Deus está comigo – agora, aqui, nisto, sempre. É uma consciência da presença contínua de Deus. É o meu diálogo com o Deus vivo, que vive no meu mundo, em Espírito e Pensamento.
O espírito orante vê Deus em todo o lado.
O espírito orante fala com Deus em todo o lado.
O espírito orante submete as incertezas do momento ao escrutínio da visão interna de Deus. Confia em que, por muito má que seja a situação, pode atravessá-la sem sofrer nenhum mal, porque Deus está com ele.
O espírito orante é, simultaneamente, uma dádiva e uma graça, uma disposição natural e uma qualidade a desenvolver na alma. Mas o que é que o alimenta?
O espírito orante é alimentado pela simples consciência de que Deus é. De que Deus está perto de nós em todos os momentos. De que Deus está mais perto de nós do que o ar, o sopro que respiramos. De que Deus está disponível, de que é um silêncio no meio do caos, uma voz no meio da confusão, uma promessa no centro do tumulto.
Se eu pedir e escutar e tentar alcançar e encher o meu coração com as palavras daquele que é a Palavra, então, obterei respostas. Sem saber como, o caminho tornar-se-á mais claro.
O espírito orante é a capacidade de, ao mesmo tempo, viver intensamente envolvidos no mundo e estar profundamente imersos no Deus que o fez. É um modo de vida que está consciente do tudo, e de todas as formas do tudo – quer espirituais, quer materiais –, ao mesmo tempo.
Joan Chittister. In: “O sopro da vida interior”, ed. Paulinas