Quando a vida se faz pão que alimenta a fome de Vida, todas as barreiras se quebram porque o próprio Deus se nos dá em alimento. É esse o fermento que leveda a vida de sabor a eternidade. O Todo-Santo é aquele «que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida», é aquele «que anunciamos, para que também vós estejais em comunhão» (1Jo 1,1.3a). A Palavra de Deus faz-se carne e oferece-se como pão. Pão partido, Palavra partilhada, Comunhão de Vida plena.

C09_05O memorial da Páscoa introduz-nos naquela cena dramática do lava-pés. O Verbo despido que, de joelhos aos pés dos discípulos, quebrando todas as regras, todos os esquemas e protocolos, toca o pó dos pés da humanidade, os caminhos que percorremos, o que de mais autêntico somos. Na água que lava os pés dos discípulos, está «o amor até ao extremo» (Jo 13,1) com que o Mestre e Senhor dá a vida por cada um, entregando-se à morte e morte de cruz. «Ecce homo»: o Verbo revela a verdade do mistério do homem. Não é senão à luz do Mistério de Deus que o do homem transparece.

No silêncio que se impõe no drama pascal, o amor incondicional, «até ao extremo»,  desafia os discípulos à irreverência de se saberem plenos no dom de si. Porque é morrendo que se ressuscita para a vida eterna. O compromisso da fé bebe toda a sua força deste dom único, do memorial do amor incondicional de Deus que revoluciona a história, do desafio que daí brota para todos os discípulos: «como eu fiz, fazei também» (Jo 13,15).

Que esta Páscoa seja ocasião de compromisso com a Vida plena.

 

Pedro Valinho Gomes

Poéticas da fé